sexta-feira, 6 de novembro de 2015

Faz-me tua...






Ama-me e faz-me tua

Molha a minh’alma semi-nua

Num diluvio de prazer

Rasga-me as poucas vestes que envergo

Enquanto no deleite me ergo

À beira mar sobre o teu corpo ao entardecer


Escuta os meus gemidos no rebentamento

Da onda que surge no momento

Em que o teu olhar me diz apaixonada

Deixa fluir todo o nosso encanto

Cobre-me como se fosses um manto

Neste colchão feito de areia molhada


Ah! Como é bom este sentir…

Do saborear da onda que está para vir

Junto da alga mais perfumada

Onde os nossos corpos se fundem em volúpias

Mais flamejantes que as noites de núpcias

Nesta praia onde amei e fui sobejamente amada.


Paula Martins

26/09/2015

Corta-me os pulsos...





Corta-me os pulsos delicadamente
Porque quem ama dor não sente
E de cansaço a noite já vai perdida
São gritos da alma da gente
Que imploram a chama ardente
A quem o outono lhes ceifou a vida

Lava-me o rosto com água cristalina
E os pulsos com o orvalho da matina
Onde borboletas brancas possam pousar
Serei ave de um qualquer jardim
Alfazema, rosa ou jasmim
Onde me possam ouvir p’ra me encontrar

Renascerei do poema nunca lido
Aquele que foi escrito e esquecido
Nunca antes interpretado
Cantarei a vida aos quatro ventos
Sem lamúrias nem lamentos
Ao amor que antes de ser presente já era passado.

Esse teu olhar...





Esse teu olhar que me entontece
Que me penetra mas não esclarece
A essência de tal sentimento
O desejo do caloroso beijo
Tão aguardado p’lo ensejo
Mas que corre tão rápido como o vento

Dedos em pétalas de rosa
Afagam o meu corpo em prosa
E desbravam-me sem pudor
Todos os recantos são cortejados
Pelas tuas mãos navegados
À chegada do beija-flor

Brilham estrelas no firmamento
Num brinde ao esperado momento
Em que as almas se fundiram
Nossos corpos entrelaçados
Por doces beijos deliciados
E p’lo amor que descobriram.

Os meus silêncios...





São os meus silêncios lamentos…
Arrastados pelas correntes e p’los ventos
Em gritos de dor que ecoam o universo
É alma que sangra a toda a hora
Na hemorragia das lágrimas que chora
Abandonadas na folha de um só verso

Estas luzes que o sol apagou
No queixume de quem se magoou
Vibram como cascavéis numa enseada
Trespassam o corpo frágil sem piedade
Ocultam a origem e a verdade
Num silêncio que tanto diz e não diz nada

Percorro todo um caminho perdido
Deambulando e de coração ferido
P’los gritos do silêncio que me acompanha
Com os trajes da mágoa e da saudade
Vou sorrindo pelas ruas da cidade
Como quem se despede de dor tamanha.