sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Florbela...




Dá-me de beber! Oh Florbela
Embriaga-me na poesia mais bela
Para que eu te possa cantar
Tanto de ti e de ti nada
Mulher poema, mulher desgraçada
Nos trilhos do versejar

Tantas dores te assolaram a vida
Mulher amada mulher sofrida
Nos silêncios da desventura
Ensina-me a amar a saudade
A colher as rosas da inverdade
P’ra matar os espinhos dessa tortura

Florbela, Florbela…
Lágrima esquecida inócua donzela
Coração que teimou em amar, amar, amar
Dessa teimosia foste escrava
Na poesia rosa brava
Como quem colhe sem semear…

Paula Martins

quarta-feira, 23 de julho de 2014

Sonhos roubados...


Quantos silêncios…
Quantas noites mal passadas
Quantas alvoradas tristes
E quantas primaveras castradas

Quanta miséria escondida
Quanta lágrima derramada
Quantos filhos perdidos
E quanta casa desgraçada

Sonhos que foram roubados
Poetas silenciados
Poemas que não foram lidos
A tela que não se viu
A peça que não se aplaudiu…
Arquivo da história dos esquecidos

Oh! Seres que destruís o mundo
E que sepultaste a esperança do povo
Abri as portas à lealdade
Defendei a humanidade
Para que floresça um mundo novo.

Paula Martins


terça-feira, 22 de julho de 2014

Donzela do Sado…



Sardinha fresquinha
De Prata, vivinha
Que o rio nos oferece
Não há outra como ela
Do Sado é a donzela
E a Setúbal enaltece

A saltar vivinhas
Sempre, sempre a brilhar
Parecem luzinhas
Nas canastras a saltar
E os pescadores
São embaixadores
Que te trazem do mar

Sardinha, sardinha
Tu és a alegria
Dos Setubalenses
No prato ou no pão
Comida à mão
A todos tu convences

A saltar vivinhas
Sempre, sempre a brilhar
Parecem luzinhas
Nas canastras a saltar
E os pescadores
São os embaixadores
Que te trazem do mar.

Paula Martins

sexta-feira, 6 de junho de 2014

Rota perdida...


Oh! mar, que secaste as tuas águas
Onde tantas vezes afoguei mágoas
Num turbilhão de correntes
Deixaste-me agora à deriva
Sem porto e de alma cativa
Vou perdida das minhas gentes

 Deixaste-me um luar apagado
Um sorriso naufragado
E uma tela por pintar
Embarquei no sonho do poeta
E como uma marioneta
Rodopiei para te encontrar

Mas não te vi na imensidão…
E sem rasto de compaixão
Caminhei em rota perdida
E presa ao leme do desespero
Servi lágrimas como tempero
À poesia que me alimentou a vida.

Paula Martins

quinta-feira, 22 de maio de 2014

Quando eu morrer...






Quando eu morrer…
Que seja morte eternizada
Que os poetas se vistam de memórias
Ficando minh’alma a versos abraçada

Deixo minh'obra inacabada
Com tanto demim e de mim nada
Para que nela possam divagar
São retalhos…ou talvez gotas de vida
De alguém que por sofrer andou perdida
Que nem eu mesma sei decifrar

Quando eu morrer…
Que nasça em mim a alvorada
Que as flores exalem perfumes
Nas páginas onde posso ser encontrada

Tatuei vida nos poemas que escrevi
Com as emoções que senti…
Sorrisos e lágrimas que chorei
Amor, revolta e fantasia
O que vi e senti a cada dia
Nos trilhos deste mundo por onde andei.


Paula Martins

domingo, 6 de abril de 2014

Escreve de mim...




Escreve de mim, oh! Madrugada acordada
A história que o tempo esqueceu
A lágrima que foi derramada
No verso que o poeta perdeu

Mar, luz, fogo ou giesta
Ninho, gruta, raiva e dor
Sentimento, dádiva e festa
Inventa-me hoje e dá-me cor

Penteia-me a vida em quadras
Rima-me em todo o teu esplendor
Num oceano de verdades entrançadas
À subtil escrita por amor

E nas folhas por ti desenhadas
Com palavras de bem saber
Serei das obras mais desejadas
Que um dia a madrugada viu nascer…


Um enigmático burro...



Nasceste Burro, Burro és!
Pseudo inteligentes…e nunca Burros
Se hão-de ajoelhar a teus pés

Deixa falar os que Burros não são
Que zurrem de boca suja e desgraçada!
Enquanto tu meu Burro, falas com o coração
Para burros que não entendem nada

Corre! Burro corre!
Corre e avança de cabeça erguida
De Burro és Vitorioso
E os que Burros não são
Serão sempre uns fracassados na vida!

Não te deixes silenciar meu Burro
Tu de Burro és inteligente
E neste mundo de Xico-espertos
De tão Burro tu és Grande
De tão Burro tu és Gente.

Pássaros feridos...


Algures…no templo dos perdidos
Em terras de ninguém
Cantam pássaros feridos
As dores de quem já nada tem

São cânticos silenciados
Pela luz duma natureza morta
Tão frios e apagados
Como as penas que cada um transporta

São gritos na noite
Da fome que se faz sentir
São Homens encurralados
Contra a força de um menir

Ai maldição que és tão fria
Maldição que foste imposta
A tua chegada foi sombria
Austera e sem resposta

São gritos na noite
Contra a opressão severa
Bandos de pássaros feridos
Desafiam a força da fera.

Sozinha...




Quando tu não estás…
Naufraga em mim tal sentimento
Exalo saudade no momento
E perco-me nas vielas da agonia…
Danço com as palavras que não disseste
Entrego-me ao sentimento que não me deste
E abraço-te por entre lençóis de fantasia…

Faço amor com as memórias sonhadas
À luz das horas desmarcadas
Numa noite em que a lua não acordou
O meu corpo vibra no deleite
E entre gemidos tudo é aceite
Mas por mim nem o um beijo passou

Grito agora aos quatro ventos
Sem rancor nem lamentos
Qual mulher de alma destroçada
Vivo a vida a cada segundo
No palco da vida enfrento o mundo
E das trevas acordo a noite estrelada.